Oi, fashion migosss 🦄✨🦄✨
Mais um mês terminando neste ano que alguém viu passar?!?! Pois é. Bom, bora pra mais um dos meus causos. Vocês sabem, ter causos para contar é a minha vida 💖
O ápice da última semana foi com a minha filha. Tudo começou quando Olívia, de nove anos, entrou pela cozinha me perguntando, em um tom de brincadeira, se eu preferia um Labubu ou um Lafufu. Obviamente, o motivo do riso dela era porque, naquela tarde, tinha aprendido com os coleguinhas na escola que um Lafufu é a imitação barata de um Labubu - e ela achou isso o máximo, sabe-se lá o porquê. O fato é que todas essas informações me chegaram depois, mas no exato momento em que ela entrou na cozinha me fazendo essa pergunta, a única reação que consegui ter foi: “Olívia, quem te ensinou isso?”
Aqui em casa a pessoa por dentro das trends e cultura pop, sou eu. Eu quem estuda moda, tendências do momento e tudo o que toca o mundo da mídia de massa ao nosso redor. Me deparar com minha filha de nove anos tendo acesso a esse tipo de conteúdo quando aqui, em nossa casa, não promovemos isso, realmente me assustou. Mas, mais do que me assustar (acho que essa não é a palavra correta) eu fiquei, na verdade, impressionada (essa sim é a palavra!) em como a discussão desses bonequinhos que são febre nas redes, estão entrando dentro da minha casa de um jeito nada esperado e, diga-se de passagem, sem serem convidados!
Labubu é um personagem criado pelo artista Kasing Lung, de Hong Kong. Ele ficou conhecido inicialmente por seus desenhos e livros infantis com um traço expressivo, quase melancólico. Labubu nasceu como um dos personagens de seu universo ilustrado — uma criaturinha peluda, com dentes pontudos, orelhas grandes e olhos que misturam doçura e travessura - é o que eles dizem. Em parceria com a marca Pop Mart (uma gigante chinesa de “art toys” ou brinquedos de designer), Kasing transformou o Labubu em um figura colecionável, ou trocando em miúdos, nos bonequinhos como nós conhecemos hoje. Enfim, foi a partir de 2022 que a procura por esses bichinhos explodiu fora da Ásia. Mas, embora pensemos que a ideia do Labubu primariamente seria alcançar crianças como a que eu tenho em casa, para o nosso espanto - ou não - o caminho foi outro. Seu público se transformou especialmente em jovens adultos, fãs de cultura pop, moda, streetwear e brinquedos de arte. As crianças mesmo, nem entram nessa lista. Hoje, Labubu aparece até em desfiles de moda e vitrines de luxo, se tornando ícone de colecionismo e fetiche contemporâneo.
Antes de finalizar esse momento “Aula sobre Labubu’s com Ana K.” (risos) Eu quero só pontuar uma coisa importante sobre tudo isso, antes de ir logo ao que interessa. O grande sucesso desses bonecos não está no quão bonitos, interessantes ou bem feitos eles são - não mesmo, e não adianta querer enganar ninguém com isso - mas sim, na maneira com que o poder das redes sociais e principalmente do TikTok, transformaram o Labubu em um item de desejo global.
Quando falamos da Indústria da moda, logo a relacionamos com roupas e vestuário. Essa é a visão mais comum, embora simplista e equivocada a respeito dela. Mas eis aqui um belo exemplo do fenômeno da moda em ação dentro das mídias digitais e, principalmente, na nossa sociedade: esse produto se esgota em minutos nas lojas. Vídeos de unboxing acumulam milhões de visualizações. E, como era de se esperar, o mercado transforma o que era brinquedo em símbolo de status.
Isso, minha gente, é moda!
Gilles Lipovetsky em seu livro O império do efêmero, diz que “Não há sistema de moda senão na conjunção destas duas lógicas: a do efêmero e a da fantasia estética.” (p. 37)
Nesse sentido, o Labubu não é apenas um boneco: ele é uma imagem condensada da moda contemporânea. Eles nos comprovam que o desejo do consumidor está na urgência; a estética do produto encanta somente pela narrativa que ele apresenta; e a experiência de compra se transformou em um espetáculo. A fórmula criada pela equipe de desenvolvimento do produto para converter os bonecos em itens desejáveis foi muito bem calculada e claramente poderosa. Eu selecionei apenas 3 exemplos de como eles trabalharam para fazer os Labubu's se transformarem na febre que são hoje. Olhem só:
Um personagem expressivo e versátil, que se desdobra em inúmeras versões e colaborações com artistas e marcas — sempre novo, sempre colecionável.
A estratégia de venda por blind box, onde o mistério sobre qual figura virá alimenta a ansiedade do consumidor e estimula a repetição da compra.
E, claro, lançamentos limitados e rápidos, pensados para criar escassez simbólica e reforçar o valor da exclusividade.
Bom pessoal, em meio a isso tudo, a grande questão para mim é o que todo esse movimento diz sobre a gente. Veja bem, eu não estou aqui demonizando o boneco e dizendo que ele foi a última pior invenção da sociedade do consumo. Mas olhar para ele me faz seriamente refletir sobre o fenômeno da moda e como ele tem se dado contemporaneamente com o advento das mídias sociais. O Labubu — e outros tantos itens desejáveis da cultura pop — não são o problema em si mas, ao me ver, o problema está em como nos relacionamos com eles.
O problema é a lógica do consumo massivo: queremos todos, queremos já, e queremos mostrar! A discussão não é só sobre o objeto (é também, vai!) mas sobre a necessidade de ser visto com ele. Ou, em outras palavras, de se ter um em meio a essa avalanche de intenções nas quais não nos damos conta - na verdade, a gente nem para pensar!
Esse movimento não é novo, mas talvez esteja mais acelerado e inconsciente do que nunca. Se parássemos para olhar com calma - o que não fazemos - perceberíamos que por trás de cada Labubu disputado há uma cadeia produtiva enorme que envolve recursos, resíduos, mãos humanas, etc. O buraco é muito mais baixo, como dizem por aí, mas a gente não se dá conta, e nem quer. Dá trabalho pensar no porquê das coisas, é mais fácil seguir o flow.
Eu acho que a pergunta que fica é: o que estamos buscando, de verdade, quando desejamos tanto um Labubu?
No final, estamos sempre em busca de algo.
Bom, tudo isso me apareceu em questões de segundo enquanto ouvia a Olívia dizer sobre a diferença dos Labubu's para Lafufu’s. A água estava tipicamente gelada batendo na louça e nas minhas mãos (inverno em Curitiba!). Sei lá por quanto tempo me desliguei pensando nessas coisas, mas foi o tempo suficiente para Olívia me chamar perguntando se eu estava ouvindo. Se ela queria ter um bichinho desses? Obviamente. Esse foi o propósito de todo esse diálogo. Pelo menos me rendeu boas reflexões.
Até a próxima, fashion migos.